Por Suzanne Maria Legrady
Olá! Eu me chamo Suzanne e, recentemente, lancei o “Movimento Com Vida e Em Paz”. Confesso que o meu sentimento atual é o de tirar “leite de pedra”, porque as postagens que recebem maior atenção são as que enfatizam as tantas violências que estão se alastrando descontroladamente.
Pensar em educação como prioridade é uma abordagem presente em alguns debates, textos e discursos propagados por políticos e alguns tantos atores sociais em diferentes meios de comunicação. O que não parece ser tão comum é a associação da palavra Paz às pautas educativas.
Neste breve artigo, pretendo dar uma leve pincelada sobre o tema, sem tornar o texto exaustivo. O meu desejo é que sirva como uma “cutucada do bem”, levando os leitores à reflexão sobre a importância da Educação para a Paz.
Resistir ou Pacificar?
A polarização política é uma evidência não apenas no Brasil, mas mundial. As intolerâncias raciais, religiosas, de gênero e ideológicas (dentre outras) estão tomando proporções assustadoras. A violência cresce, a cada dia, nas ruas e no cotidiano das redes sociais.
Parece que a regra do jogo é “resistir”. É como se estivéssemos presenciando a disputa esportiva de um cabo de guerra, por meio da qual times opostos puxam a corda cada um para o seu lado. Jogadores obstinados precisam impor sua força e o grande público – ao redor – grita, xinga e torce para sua equipe favorita ganhar e a opositora cair e se machucar.
Mas afinal quem ganhará o jogo? Ninguém! Todos perderão, porque a corda se romperá e nenhum dos competidores sairá vitorioso. Ao contrário: todos terão feito esforços que os levarão à queda (podendo ser muito mais que apenas um tombinho; ser até mesmo fatal).
Quem defende a linha de ação da resistência a qualquer custo poderá me contestar algo parecido a: a resistência é a possibilidade de luta contra as injustiças e as desigualdades. E eu responderei: a paz é a sábia forma de combate às injustiças e às desigualdades.
Pacificar significa enxergar as situações de conflito, as mediar e buscar soluções nas próprias potencialidades humanas, sem colocar mais lenha em fogueiras que ferem, destroem e matam.
Educar significa desarmar. Por essa razão, falar de luta é algo que nós, educadores da paz, não costumamos incentivar. O verbo lutar está fortemente associado, historicamente, a exercer força bruta. E a força que interessa aos educadores para a paz é a do “bom combate”.
Pacificar é a forma sublime de nos educarmos para o amor, o respeito e a convivência das muitas diversidades. Não existe educação com ódio e para o ódio, porque incentivar o ódio já é em si um ato de “deseducação”.
Em 1963, Martin Luther King pronunciou as seguintes palavras: “Não tentemos satisfazer a sede de liberdade bebendo da taça da amargura e do ódio”.
Em 2020, continuamos insistindo num caminho contrário ao que foi professado pelo aclamado líder e defensor dos direitos civis dos negros.
Educar para evidenciar o brilho do espírito de Dom Quixote
Dom Quixote de la Mancha, o clássico personagem de Miguel de Cervantes, foi apelidado pelo seu fiel escudeiro, Sancho Pança, como a “Triste Figura”. Isso porque Dom Quixote, um louco sonhador, levou muitos trompaços durante as suas incansáveis batalhas contra os gigantes e os fantasmas que insistiam em interromper sua gloriosa empreitada a favor da justiça e da liberdade.
A lição mais bela que Quixote nos deixou é seu espírito sonhador, incentivador do bom combate por meio da destreza do saber, do sentir, do amar e do agir. O espírito quixotesco é definido pelo Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa como aquele “generosamente impulsivo, sonhador, romântico, nobre, mas um pouco desligado da realidade.”
Educar para a Paz é educar para sonhar, é educar para que os seres humanos desenredem os nós dos sentimentos e dos pensamentos, para que desenhem planos de ações transformadores como autores de suas próprias histórias e coautores das muitas histórias alheias. Não se educa para a alienação. O “pouco desligado da realidade” na Educação para a Paz significa estar muito aferrado à esperança de que é possível mudar o mundo! Ela é o reflexo do sonho com a realização de um futuro muito melhor através de esforços humanizadores, a partir do aqui e do agora!
Um(a) educador(a) para a paz não se esconde dos conflitos. Ao contrário, quer conhecer todos: os internos (do “eu”) e os externos (entre o “eu” e os outros; entre os “outros” com “outros outros”). Se engana quem pensa que um pacificador é aquele que promove pieguices e que se esconde numa bolha cheia de luz dourada flutuando fora da realidade do mundo.
Ser nobre de espírito, generoso, impulsivo, sonhador não significa romancear a realidade. A visão é a de que, através do ato generoso de colocar-se no lugar do outro (empatizar-se), se alimente o que há de melhor dentro de cada ser humano para a construção e multiplicação de círculos virtuosos de convivências pluralmente libertadoras.
Os(as) Educadores(as) para a Paz nutrem seus espíritos de coragem para travar o bom combate contra os muitos dragões que estão soltos pelo mundo. Eles desejam ajudar a recuperar o brilho dos espíritos virtuosos empoeirados das tantas pessoas que vão encontrando ao longo de suas trajetórias. Anseiam que cada pessoa encontre, dentro de si mesma, a sabedoria de Martin Luther King e de Dom Quixote, porque acreditam que a força para transformar a injustiça em justiça e a desigualdade em igualdade é a expressa por Dom Quixote:
“Não tem que ser, nem sempre rigoroso, nem sempre suave”.
A Educação para a Paz visa promover o equilíbrio porque é somente por meio dele que justiça e igualdade de direitos se fazem possíveis!
Quatro pontos para reflexão:
- O que você deseja para o mundo: Cultura do ódio ou Cultura da paz?
- Você tem incentivado, no seu dia a dia, a Cultura do Ódio? Se respondeu sim, pense se isso tem lhe feito bem e trazido resultados positivos, tanto para a sua vida quanto a dos outros.
- Você tem incentivado, no deu dia a dia, a Cultura da Paz? Se respondeu sim, pense como isso tem lhe feito bem e trazido resultados positivos, tanto para a sua vida quanto a dos outros.
- Como o espírito de combate às desigualdades e às injustiças de Martin Luther King e de Dom Quixote pode inspirar as suas ações cotidianas?
Gratidão por ler esta pincelada sobre a importância da Educação para a Paz!
Espero que tal texto tenha sido útil para suas reflexões! Abraços afetuosos!